Paracatu: mais uma morte e ressurreição de JK

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          Às vezes momentaneamente esquecido, outras tantas vezes lembrado, com paixão até, assassinado simbolicamente por adversidades e golpes políticos, mas sempre ressuscitado na memória do povo, o ex-presidente Juscelino Kubitschek, um dos mais populares da história do Brasil, poderá vir a ser o centro de uma nova polêmica, agora em Paracatu. O seu busto e o seu nome poderão ser retirados da praça em que está localizada a catedral de Santo Antônio, no centro histórico da cidade, e transferidos para a pracinha do bairro que já tem o seu nome.  

          Um grupo de moradores do entorno e militantes culturais da cidade, convocado pelo vigário geral da Diocese, monsenhor João César, também pároco, está discutindo a recuperação e revitalização do templo e da praça. Dentre as alterações está a nova denominação do logradouro, que, se aprovada pela Câmara Municipal, passará a ser Largo da Matriz. A alegação é  de que, além de uma nova praça, JK será homenageado com um bairro inteiro, sem falar no fato de a população em peso conhecer e reconhecer  o atual   espaço urbano central como Largo da Matriz, mesmo não sendo a de Santo Antônio a primeira igreja de Paracatu.

          Juscelino Kubitschek experimentou muitas mortes e ressurreições em sua carreira, inclusive antes e depois de ter exercido a Presidência da República (1956/61). A primeira delas ocorreu após as eleições de 1934, nas quais ele foi eleito deputado federal, mas logo cassado pelo golpe do Estado Novo.  No comando da nação, anos depois,  enfrentou levantes militares, que superou politicamente anistiando os rebeldes. Presidente, revolucionou o Brasil, após o que foi eleito senador por Goiás e já preparava o seu retorno a Brasília em 1965, quando foi cassado e banido pelos militares golpistas de 1964.

          A morte física do ex-presidente ocorreu em 22 de agosto 1976, em acidente automobilístico na via Dutra, próximo à cidade de Resende-RJ. Até hoje o episódio desperta controvérsias. É que estava em curso a chamada Operação Bandeirante, orquestrada pela agência de inteligência americana (CIA) e pelas ditaduras da América Latina para exterminar líderes políticos abaixo do Rio Grande. Coincidentemente ou não, morreram, em curto período de tempo, além de JK, o também ex-presidente João Goulart (de um estranho  súbito mal), que estava exilado no Uruguai, e o líder e ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda. Os três estavam articulando a criação da Frente Ampla, de resistência à ditadura militar brasileira, que tinha o apoio do Tio Sam.

          Em Paracatu, a história da ligação com JK ficou mais forte em 1950, quando, após ganhar notoriedade como prefeito de Belo Horizonte, o ex-presidente aqui veio como candidato a governador de Minas pelo PSD. No retorno ao aeroporto, que ficava onde hoje é o bairro Bela Vista, JK e comitiva foram apedrejados e atingidos por uma chuva de ovos, comandada pelos falecidos Mário Lúcio Ulhoa e Oto Pinheiro, na Avenida Olegário Maciel, a mando dos membros da UDN, partido contrário ao PSD. Em sua grandeza e elegância política, o candidato prometeu, na ocasião, que, se vitorioso, Paracatu seria a primeira cidade do interior que ele visitaria em missão oficial. E cumpriu a promessa.

          JK manteve os laços com Paracatu anos depois, mesmo depois de ter sido apeado do poder. Costumava visitar a cidade, ouvir os seus seresteiros, gozar da hospitalidade do amigo Fifico Chaves, sócio no Banco Denasa, conversar com os correligionários e com o povo.  Chegou a levar daqui, por indicação da família do amigo Fifico, uma cozinheira da família Damasceno, Dona Luíza. Foi visitado e homenageado em sua fazenda, em Luziânia-GO, pela Escola de Samba Dona Beija, que tinha à frente o hoje comerciante e ex-bancário Fernando Moreira e sua esposa Dalhinha. E, quando escorraçado da Brasília que construíra pelos usurpadores do poder, afogava suas mágoas vindo sempre à cidade em seus muitos périplos pelo Brasil.

          A retirada do nome e do busto de JK da praça central de Paracatu será uma das suas muitas “mortes” ou mais uma “ressurreição”, com o ex-presidente voltando a ser o centro das atenções na cidade que ele tanto amou?  O que você acha, internauta? Afinal, o episódio tem tudo a ver com você, com a sua história e com a história de  sua cidade…
 

Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira.

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