Ed Guimarães, o “veado” e o Paraíso Repórter

whatsapp-white sharing buttontelegram-white sharing buttonfacebook-white sharing buttontwitter-white sharing button

           Chego de viagem de confraternização familiar. E, paradoxalmente ao clima feliz reinante alhures, encontro Paracatu ainda entristecida pela morte do colega e amigo Ed Guimarães, anjo dos olhos verdes que foi muita coisa na vida, mas, sobretudo, radialista, e dos melhores! Ao longo de sua carreira, iniciada na Rádio União, em João Pinheiro, ele passou também pelas mídias papel, TV e internet, mas o rádio foi a sua maior e melhor praia. Nela viveu, dela sobreviveu, até ser chamado pelo Pai, maravilhado pelos encantos vocais do seu filho, para apresentar o Paraíso Repórter.

          Trabalhamos juntos no rádio em duas oportunidades: na Rádio Juriti AM, nos tempos de transição para a reconquistada democracia brasileira, onde, periodicamente, em companhia de Dino Maia, produzíamos e apresentávamos o Rádio Debate, no qual eu era uma espécie de “repórter maldito”, encarregado de botar os políticos numa saia justa; e na Boa Vista FM, levado que fui pela também saudosa repórter Rosilene Amorim e eu atacava de comentarista político língua afiada. O passo seguinte foi na TV Paracatu, ele como apresentador e eu novamente como comentarista implacável, às vezes para desespero de nossos superiores.  Quando convidado para ser assessor de imprensa da Prefeitura, recusei a proposta e indiquei o seu nome.

          E assim fomos vivendo, às vezes mais próximos, às vezes mais distantes, mas sempre alimentando a amizade e o respeito mútuos e nunca permitindo que ideologias políticas ou outros interesses interferissem nessa relação. Às vezes o Ed me chamava de “mestre”. Bobagem e generosidade! Mestre mesmo era ele, um dos melhores e mais completos homens de rádio que já conheci, que ia da música sertaneja ao pop hop, do noticiário político à abordagem literária com a maior cancha do mundo. Um espaço nos seus programas, cobiçado pelos políticos, era generosa e ilimitadamente franqueado quando algum colega de ofício solicitava.  Companheirão.

          Otimista incorrigível, piadista o tempo inteiro, sorriso constante nos lábios, nunca vi o Ed triste, nem mesmo nos momentos em que o câncer minava suas forças. Quando debaixo de ameaças advindas de setores obscuros da vida, ele “tirava de letra” os problemas, nadava corajosamente sobre as águas revoltas para ressurgir, mais forte e mais alegre ainda, lá na “terceira margem do rio” da vida. Competente e vencedor!

          Apenas uma vez nós, colegas, conseguimos colocar Ed “numa sinuca de bico”. Éramos um sucesso na época e, convidados, juntamente com Dino Maia,  fomos  como estrelas a uma festa na zona rural de Paracatu. Os melhores salgados e as cervejas mais geladas corriam a rodo. Alguém apareceu com uma bandeja de  carne  que nunca vi igual, exalando um cheiro irresistível. E disse tratar-se de carne de veado, temperada com capricho indescritível e levada ao fogo com banha de porco. Confidenciou aos  amigos  tratar-se de uma brincadeira, menos ao Ed, para testar as suas convicções de ambientalista recém-convertido ao Movimento Verde de Paracatu. Provocativos   advogados do diabo, saboreávamos  o prato, pródigos em elogios, tomando generosos goles da cerveja e estalando ruidosamente os beiços.  Em dado momento, Ed capitulou. Olhou fixamente para o “veado” no prato, apanhou um generoso pedaço e, levando o quitute à boca já aguada, bradou, vencido: “já que está morto mesmo!”…

             Vá em paz, Amigo! Vá fazer sucesso com o Paraíso Repórter!           
 

Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira

XMCred Soluções Financeiras
whatsapp-white sharing buttontelegram-white sharing buttonfacebook-white sharing buttontwitter-white sharing button