Dr. Paulo fala sobre a “Dengue” em Paracatu

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Dr. Paulo Sérgio Morais, Diretor Técnico do Hospital Municipal e Coordenador da UTI esteve nos últimos dias concedendo entrevistas as Rádios e TV's de Paracatu e região, falando a respeito da Epidemia de dengue que vem assolando Paracatu e classificou com "caso isolado" a vítima por dengue hemorrágica.

Florival Ferreira: Dr. Paulo Sérgio! O que é a dengue hemorrágica, quais são os seus sintomas e esclareça: em que ela difere da dengue comum e qual o percentual de óbito entre as pessoas que contraem a doença?

Dr. Paulo Sérgio: Bom dia a todos, bom dia Florival Ferreira. A dengue hemorrágica é caracterizada clinicamente pela presença dos mesmos sinais e sintomas iniciais da dengue clássica, ou seja: febre, prostração, dores por todo o corpo, intensa dor muscular, dor atrás dos olhos,que é chamada de dor retroorbitária, perda de apetite, e que após um período que varia de 3 até 6 dias, ocorre o desaparecimento da febre, seguido de manifestações de sangramento, que frequentemente surgem na pele, na forma de pequenas manchas avermelhadas conhecidas como petéquias, ou manchas maiores, como equimoses, que surgem espontaneamente ou após algum pequeno choque na pele. Podem surgir também sangramentos na gengiva durante a escovação, sangramento pelas narinas, com hecidas como epistaxes, diarréia com sangue, e sangramentos pela urina. Quando estes sintomas surgem sem que o paciente apresente queda muito importante da pressão, costumasmos defini-la como hemorrágica. Em casos muito raros,quando o paciente apresenta um quadro de grande queda pressão arterial, conhecido como choque, associado a sintomas de sangramentos espontâneos intensos, muita falta de ar , conhecida como insuficiência respiratória aguda, e necessitando de aparelhos para manterem a respiração do paciente, além de queda da contagem de células vermelhas e brancas e também das plaquetas, caracterizamos como síndrome de choque hemorrágico associado à dengue.

Florival Ferreira: Doutor, é possível, tomando como base os sintomas apresentados, saber de imediato se o paciente está com dengue hemorrágica ou não?

Dr. Paulo: Não é possível distinguir de imediato, no início dos sinais e sintomas quando o paciente irá evoluir para a dengue hemorrágica, pois os casos que apresentam estas manifestações começam da mesma forma que a dengue clássica. A causa que leva um número reduzido de pacientes que apresentam a dengue clássica evoluirem para uma forma hemorrágica ainda não é completamente esclarecida. Parece estar associado à agressividade do vírus contraído, pode ter ocorrido uma história anterior de dengue clássica, mas isto não é totalmente obrigatório. Fatores particulares de imunidade do paciente costumam estar envolvidos, como acontece nos pacientes mais idosos, em pacientes grandes tabagistas, usuários de drogas, alcoolistas pesados que também parecem ter uma maior possibilidade de apresentarem a dengue hemorrágica, mas não existe uma certeza científica do porquê alguns poucos casos, entre os pacientes com dengue clássica que irão apresentar a dengue hemorrágica.

Florival: A dengue hemorrágica, poderá adquirir grande proporção em Paracatu, agora que já foi registrada uma vítima fatal? Analisando o óbito ocorrido nesta semana, pode-se dizer se ele ocorreu porque a dengue hemorrágica que chegou ao nosso meio é altamente letal ou se colaboraram para isso as particularidades do paciente?

Dr. Paulo: Este caso de dengue hemorrágica pode ser classificado como síndrome de choque associado à dengue, em que ocorre uma queda muito importante da pressão arterial, uma parada do funcionamento do fígado, conhecido como insuficiência hepática aguda, parada de funcionamento dos pulmões devido à hemorragia pulmonar, levando à insuficiência respiratória aguda, grande perda de líquidos e sangramento maciço na pele e nos outros orgãos, inclusive com hemorragia intestinal maciça. Este caso foi totalmente anômalo, não tendo sido relatado em nossa cidade nem em nossa região nenhum caso parecido. Este paciente estave internado em um hospital particular da cidade, diagnosticado com sintomas de dengue clássica. Em 24 horas neste hospital, apresentou insuficiência respiratória, sangramentos espontâneos e queda da pressão arterial, sendo transferido então para a nossa unidade de terapia intensiva. Pela velocidade de instalação do quadro de choque, a severidade do quadro hemorrágico que o paciente apresentava, tivemos a suspeita clínica de dengue hemorrágica em sua forma mais grave, que é raríssima, acometendo uma parcela pequena de pacientes com a dengue hemorrágica, que já representa um grupo muito pequeno dos pacientes acometidos com dengue clássica, menos de 3% dos pacientes. Certamente estão envolvidos fatores de resposta imunológica pessoal deste paciente que infelizmente o levaram a uma forma tão grave da doença.

Florival: O Sr. é médico, não é político, e, em assim sendo, tem compromisso precípuo com a verdade científica. Há motivo para que a população fique excessivamente preocupada? No reverso da medalha, e fotografando a situação em preto e branco, as autoridades e a sociedade podem relaxar e dormir em paz?

Dr. Paulo: A população não tem motivos para se preocupar em relação ao aparecimento de novos casos de Dengue hemorrágica em nosso município. Este caso que gerou tanta preocupação foi um caso isolado, relacionado à característica pessoal de defesa imunológica envolvida no quadro clínico do paciente. Novos casos de dengue hemorrágica não são esperados no contexto atual, e se porventura vierem, com certeza não terão a agressividade deste caso. Entretanto, a dengue clássica ainda está entre nós, e devemos permanecer alertas quanto ao aprecimento dos primeiros sintomas e procurar cuidados médicos. E é claro também que a população não deve se descuidar das medidas gerais de controle da proliferação do vetor da doença, que é o mosquito Aedes Aegypti, que é a medida mais eficaz no controle da doença, tais como evitar lixo em terrenos baldios e nos quintais das casas, evitar acúmulo de água parada em vasinhos de plantas, em garrafas vazias, pneus vazios; manter as caixa-d’água tampadas e as calhas dos telhados com escoamento de água para evitar o acúmulo em locais de pouca visibilidade e outras medidas necessárias. Nem as autoridades nem a população podem neste momento relaxar nem descuidar das medidas preventivas, que devem ser constantes, contínuas, e tem que mobilizar toda a sociedade, independente de classes sociais, de bairros, de localidades, em conjunto e complementando o trabalho das autoridades. O trabalho de erradiação do mosquito Aedes Aegypti ainda precisará de muito tempo e trabalho depois deste momento de tensão que vivemos, até que possamos relaxar sobre esta questão o que só será possível após conseguirmos a eliminação desta doença de nosso meio.
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