Os meios políticos locais foram tomados de surpresa neste início de semana por conta de suposta “carta aberta” à população de Paracatu. Nela, o ex-prefeito Vasco Praça Filho (Vasquinho), do PMDB, não só derrama elogios sobre um adversário – “nosso paracatuense mais ilustre no rol dos homens públicos” -, como também manifesta apoio à candidatura dele, o também ex-prefeito Arquimedes Borges, do PTB, a deputado federal. O porquê da surpresa: Borges e Praça sempre foram, em termos políticos, como água e óleo, e os seus seguidores não absorvem bem essa união.
Interpelado pelo Toco do Pecado, Vasquinho disse que a tabuada não é bem assim. A sua assinatura, aposta na “carta aberta”, é falsa. Além de acompanhar Aécio Neves (presidente), Pimenta da Veiga (governador) e Augusto Anastasia (senador), o seu apoio, na atual corrida parlamentar, é a Marcos Montes, do PSD (federal), e Inácio Franco, do PV (estadual), que ajudaram politicamente o seu governo. Anunciou medidas judiciais nas áreas penal e eleitoral, inclusive com pedido de indenização pelo uso indevido da sua pessoa, da sua imagem pública e da instituição que dirige, a Cooperativa Agropecuária de Paracatu, citada no documento. Um graduado assessor da campanha de Arquimedes também negou a autoria da carta, informando que Borges, da mesma forma, registrou o fato junto à Polícia para as providências cabíveis.
Isto posto, a Assembleia Geral do Toco do Pecado foi convocada às pressas para analisar o angu de caroço. O ponto de partida da reflexão, digno de Sherlock Holmes, foi um ponto de interrogação clássico: a quem interessa o crime de falsificação? Após todas as conversações, reflexões, elucubrações e especulações, o Toco do Pecado e os argutos observadores ouvidos chegaram ao lugar: em tese, poderia interessar a muitos, o que não significa que foram os hipotéticos beneficiários os autores da missiva. A outra conclusão é a de que o episódio de agora foi bolado mais para produzir efeitos futuros.
Explicações? Vamos a elas: Vasquinho é, desde já, um dos favoritos na futura disputa pelo cargo de prefeito local, que, como se sabe, dificilmente alguém ganha sem um grupo forte. Como o ex-prefeito decidiu apoiar só candidatos de fora do PMDB, ficará automaticamente enfraquecido no partido, correndo o risco de, em lá permanecendo, nem conseguir legenda para ser candidato. Ali, além de estar o sempre comentado ex-vereador José Maria Andrade Porto, cuja família brigou com Vasquinho, cresce a simpatia ao médico Humberto Costa Rabelo, o Dr. Bebeto, que, coincidentemente ou não, não está mais no PTB e fez recente manifestação pública de apoio ao candidato a deputado federal do partido, Silas Brasileiro. No PSDB, dificilmente Vasquinho encontrará guarida para disputar, eis que, nas hostes tucanas, o prefeito Olavo Condé manifestou a possibilidade de ser candidato à reeleição. Ir para o PT? Seria cruzamento de cobra com tatu, após suas recentes declarações de rejeição às candidaturas Fernando Pimentel (governador) e Dilma Roussef (presidente). Para o PTB? Falta confiança recíproca e, na legenda, fala mais alto a ala comandada justamente por Arquimedes Borges…
Já é comentada lá no Toco e nos bastidores a possibilidade de Vasquinho ir para o PV. Mas, qualquer que seja a sua opção, ele terá que construir um grupo forte e um partido forte, o que nem sempre é fácil, especialmente se os candidatos apoiados por ele perderem a corrida eleitoral deste ano. Daí a conclusão de que a falsa “carta aberta”, cuja autoria ninguém assume, foi uma jogada mais para produzir futuros efeitos. E o que esta coluna vem falando? Justamente que 2014 nem acabou, mas 2016 já começou!
Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira