Política: o desastre e o enigma

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          O conservadorismo político brasileiro, que tem tendência de direita ou  centro-direitista, está correndo o risco de experimentar na pele a expressão de Bocage,  que disse a um jovem poeta ficar “a emenda pior que o soneto”. É que, se não patrocinou, o setor pelo menos bateu palmas para a campanha de desgaste do governo esquerdista da presidente Dilma Roussef e do PT. Pretendia,  com isso, vitaminar a campanha do senador Aécio Neves, do PSDB, em tese mais conservadora. Só que, com o trágico acidente que vitimou Eduardo Campos, do PSB, quem está crescendo nas pesquisas,  poderá chegar ao segundo turno e até ganhar a eleição é a sucessora natural de Campos, a ex-senadora Marina Silva, que tem perfil mais esquerdista que a própria Dilma.

          Nos últimos meses, esteve em curso um esforço para desgastar  Dilma. Ela não fez como o seu antecessor Lula, que neutralizou esse tipo de pressão chamando para ser seu vice o respeitado empresário José Alencar. Durante as solenidades de  abertura e  encerramento da Copa do Mundo de Futebol,  chegou-se a dirigir à presidente  expressões grotescas, chulas, abjetas,  nem mesmo declináveis   diante de uma mulher, senhora e mãe.  Inexplicavelmente, o PT, que nunca foi de correr de briga, permanecia quieto. Salto alto? Convicção de que, no frigir dos ovos, a estratégia adversária não vingaria? Ou estaria o próprio PT, que nunca assimilou Dilma muito bem em razão das suas origens pedetistas/brizolistas, torcendo para a sua derrocada para, então, promover o triunfal retorno do ex-presidente Lula ao páreo?

          Só que Dilma, até pouco tempo atrás, declinou pouco e Aécio não subiu tanto. Parece que, apesar do desgaste sofrido (principalmente) pelo PT com o mensalão, o brasileiro entendia que o Brasil melhorou com os seus governos e que padeceu muito nos anos pessedebistas e fernandoenriquistas. Faltava, contudo, uma terceira via, já que Eduardo Campos não tinha, até a sua morte, demonstrado viabilidade eleitoral. O trágico o acidente aéreo registrado em Santos-SP            mudou totalmente o quadro: o fator Marina, bafejado pelos cerca de vinte milhões de votos obtidos na última campanha presidencial, embalado também pela comoção que sacudiu o Brasil inteiro, passou a fazer a fazer parte do núcleo da disputa. Não deixa de ser uma guinada à esquerda, que causa arrepios no conservadorismo capitalista, inclusive no agronegócio e nos setores ruralistas, conforme já se viu. Para onde penderá o conservadorismo agora, uma vez que, fora dessas três, as demais candidaturas não demonstraram qualquer viabilidade eleitoral até agora?

          Com a morte do ex-governador Eduardo Campos, a nação, ainda atordoada na reta inicial da disputa radiotelevisiva, se apresenta diante dos candidatos e seus estrategistas como se fosse a Esfinge de Tebas. O ser mitológico propôs a quem se dispôs a enfrentá-lo o desafio clássico “decifra-me ou te devoro”, querendo saber “qual o animal que tem quatro patas de manhã, duas ao meio-dia e três à tarde”. Édipo esclareceu o enigma, dizendo tratar-se do homem, que engatinha (andando de quatro) no começo da sua existência, depois caminha ereto ao meio-dia (sobre duas pernas, portanto, quando adulto) e de bengala (três pernas) na velhice. Acabou sendo coroado rei de Tebas e se  casando com Jocasta como prêmio. No momento atual, saber  interpretar ou não o que realmente quer a nação, como tirá-la de seu atordoamento,  poderá significar a glória ou o naufrágio, a continuidade na estrada que leva à coroação ou ter que pegar o próximo retorno. Quem será o nosso Édipo,  a desposar a Jocasta Presidência?

Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira

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