O aeroporto de Aécio e o comportamento da mídia

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O aeroporto de Aécio e o comportamento da mídia
Algumas pessoas estão eufóricas com a informação, divulgada hoje pela Folha, de que na gestão de Aécio foi construído um aeroporto com dinheiro do contribuinte numa propriedade de um tio dele.

14 milhões de reais foram gastos na obra, segundo a Folha.

A euforia que me chama a atenção não é a dos petistas. Esta é previsível, dadas as circunstâncias.

É a de pessoas para as quais o furo da Folha é a prova definitiva de que a mídia não favorece o PSDB e nem, muito menos, se esmera nas denúncias contra o PT.

Cada um fique com sua crença, mas quem acredita nisso – na demonstração de neutralidade apartidária por conta do aeroporto denunciado – acredita em tudo, conforme disse Wellington.

Observe.

Primeiro, entra aí uma espécie de cota da Folha de notícias negativas para o PSDB. Assim como tem uma cota de colunistas de pensamento independente – para cada Janio de Freitas há vários Magnollis – a Folha tem também uma para notícias.

Faz parte do esforço em manter de pé o slogan com o qual ela conquistou, no passado, a liderança entre os jornais: aquele que afirma que a Folha não tem rabo preso com ninguém.

Muito mais por razões de marketing do que propriamente por razões jornalísticas, a Folha é entre as publicações das grandes companhias jornalísticas a que mais parece se preocupar com a imagem de imparcialidade.

É por isso que, de vez em quando, você vai ler lá coisas como o aeroporto de Minas. É uma característica da Folha, e só da Folha.

Saia da árvores e analise a floresta.

A grande diferença entre uma denúncia contra o PT e uma denúncia contra o PSDB está na repercussão dada pelas demais empresas de jornalismo.

Num caso, quando a vítima das acusações é o PSDB, o assunto vai morrendo, à falta de interesse de jornais e revistas. No outro, quando contra o muro está o PT, são manchetes incessantes, e desdobramentos se multiplicam.

Compare a cobertura dada, algum tempo atrás, à Petrobras, depois da compra de uma refinaria em Pasadena, com o noticiário relativo ao escândalo das propinas do metrô de São Paulo.

O episódio que melhor mostra a distinção no tratamento de temas assemelhados diz respeito à compra de votos no Congresso para que fosse aprovada a emenda que permitia a reeleição de FHC.

Como agora, a denúncia partiu da Folha.

Como o Jornal Nacional, por exemplo, repercutiu a compra? Nos últimos anos, o JN se habituou a pegar denúncias anti-PT da Veja e, na edição de sábado, dá-las com extremo alarido.

Eram amplificados assim, com o mesmo expediente, ataques ao governo petista. O espaço dado pelo JN às acusações levava depois, durante a semana, o resto da mídia – jornais, sobretudo – a se engajar na exploração dos “furos” da Veja.

Este comportamento padrão, repetido metodicamente ao longo de tanto tempo, acabou minando a credibilidade da grande mídia perante a parcela mais esclarecida do público – e não apenas entre petistas.

Alguns detalhes mudaram: a radicalização progressiva da Veja levou os editores do Jornal Nacional a tomarem mais cuidado com o noticiário da revista. Acabou a repetição mecânica.

Mas o processo, em si, continua o mesmo. Notícia ruim contra o PT é, para a mídia, notícia boa. Notícia ruim contra o PSDB é, para a mídia, notícia ruim.

O aeroporto de Aécio, por tudo isso, rapidamente vai sumir do noticiário da mídia nesta semana.

Não porque o assunto não seja importante, mas pelas preferências ideológicas e partidárias das grandes empresas de jornalismo, para as quais notícia é algo definitivamente subjetivo. http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-aeroporto-de-aecio-e-a-comportamento-da-midia/

Quem vazou a informação do aeroporto?
Uma pergunta se alastrou pela internet depois que a Folha publicou a informação de que Aécio mandara construir – ou reformar, segundo ele – um aeroporto numa fazenda de um tio. (Ele afirma que a fazenda já não era do tio quando recebeu a obra.)

Quem vazou?

É um caso antigo, de alguns anos. Não é um fato novo, propriamente. Por que isso não apareceu antes?

A informação não foi fruto de um trabalho de investigação jornalística da Folha.

Alguém passou ao jornal a informação. É assim que as coisas funcionam. Ao contrário do que as mentes ingênuas e românticas acreditam, os maiores furos jornalísticos quase não envolvem repórteres, editores, subeditores, fotógrafos e quem mais for.

Tudo se resume na entrega, para o veículo certo, de um dossiê que comprometa alguém.

Carlinhos Cachoeira é um símbolo disso, com os escândalos que forneceu à Veja. Pode-se dizer que nenhum repórter da Veja, nos últimos anos, foi tão produtivo quanto Cachoeira.

Quem viu House of Cards conhece o mecanismo que leva alguns políticos ao topo, e muitos ao abismo.

Na série, furioso por não ter recebido o cargo prometido pelo novo presidente americano, Francis Underwood vai passando informações comprometedoras sobre desafetos até chegar à Casa Branca.

Alguém entregou Aécio, isto é fato.

Mas quem?

Os internautas se agitaram em torno dessa pergunta.

O primeiro suspeito, nas especulações, é o suspeito de sempre: Serra. Em torno de Serra se construiu a lenda – ou a realidade, para muitos – de que ele é um mestre em produzir dossiês antiadversários.

Mas há pontas soltas nesta hipótese.

Se Serra tinha a informação, por que ele não a vazou quando disputava com Aécio a indicação do PSDB para as eleições presidenciais?

Alguns meses atrás, o aeroporto poderia ser fatal para as pretensões de Aécio de ser o candidato.

É de supor que, se Serra soubesse da história, se movimentaria na hora certa. É um homem inteligente.

Ou seria ele tão vingativo que, mesmo tendo acesso tardiamente a um dado letal para seu rival, optaria por vazá-lo mesmo sem outro proveito pessoal que não a desgraça alheia?

Muitos internautas apostam em Serra, com todas as ponderações que tornam seu nome fraco como suspeito.

A fama, a obra de Serra são maiores que a vulnerabilidade da hipótese de que foi ele o responsável pelo vazamento.

Pessoalmente, não acredito que tenha sido ele. A falta de um benefício claro para Serra do vazamento o inviabiliza, em meus esforços dedutivos, como suspeito.

Terá sido alguém do PT?

Não acredito. As relações entre o PT e as grandes empresas de mídia são muito ruins para que alguém do partido confiasse que um jornal como a Folha publicasse a denúncia.

Haveria o temor, imagino, de que a Folha não apenas rejeitasse o dossiê como o usasse contra o autor. E se Folha dissesse numa manchete que o PT tentara incriminar Aécio?

Toda a mídia cairia matando em cima do PT. Logo surgiria a velha pergunta: “Lula sabia?” O Jornal Nacional encontraria motivos para dar o assunto dias, semanas seguidas.

Haveria, em suma, a movimentação em massa que não existiu no caso do aeroporto. A mídia dá – esconde é um verbo melhor — o mínimo necessário para não passar vergonha.

Alguém viu uma matéria decente sobre a fazenda em si, por exemplo? Ou algum perfil sobre o tio de Aécio?

Se foi Serra – repito: acho que não foi – ele deve estar frustrado com a repercussão.

Seja quem for que tenha vazado, ele pôde comprovar uma máxima do jornalismo brasileiro destes tempos: denúncia só é boa quando é contra um petista. http://www.diariodocentrodomundo.com.br/quem-vazou-a-informacao-do-aeroporto/

Paulo Nogueira
Sobre o Autor: O jornalista Paulo Nogueira é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.

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