Do Toco do Pecado – Comentários de Florival Ferreira
Dois episódios que dão o que pensar. Durante a abertura da Copa do Mundo de Futebol, dia 12 deste mês, em São Paulo, a presidente Dilma Roussef, que lá compareceu em missão oficial e também para apoiar a seleção canarinho, foi hostilizada por uma endinheirada elite brasileira com um sonoro, desbocado e mal educado – perdoem a expressão – “Ei Dilma, vai tomar…”. No dia 16 seguinte, em Salvador, os torcedores alemães saudaram com respeito a chanceler conterrânea, Angela Merkel, que foi à Bahia de todos os santos prestigiar o selecionado do seu país.
Qual a diferença entre os dois episódios? Dizer que havia discrepância entre os dois segmentos – o cortês e o deseducado – não vale. Os torcedores alemães certamente eram os ricos de lá, com condições de sair e gastar rios de dinheiro durante a Copa. Mas os desbocados brasileiros eram os ricos de cá. Afinal, as hostilidades começaram no setor vip da torcida, onde o ingresso, que era o de menos, custava até 990 reais, sem falar nas outras despesas, como hospedagem e passagens aéreas (R$ 457,00 ou 82% a mais no dia, saindo de Brasília). O estudante (exceto o filhinho de papai), o professor público, o operário assalariado, o pequeno comerciante e a grande massa trabalhadora brasileira estavam lá? Claro que não.
A diferença, assim, tem um forte fator cultural e político. Os ricos de lá têm consciência social. Os ricos brasileiros, que já tiveram pavor, agora têm também profundo desprezo por governos e ideologias que tentam eliminar um pouco das gritantes disparidades sociais, acumuladas durante mais de meio século de história. Em seu ódio, perdem até a compostura e seus valores morais, pois não se concebe que alguém, mesmo que com proteção do manto do anonimato, seja capaz de mandar uma mulher, ainda mais em sendo ela honrada mãe e avó, ir “tomar…”. Sendo essa mulher presidente da República, eleita pelo voto livre e soberano da maioria dos cidadãos, é ela também chefe da Nação. Os alemães reconheceram esse valor na sua chanceler, igualmente eleita. Os ingleses, que nem votaram nela, têm profundo respeito pela sua rainha. Nossa elite, que se diz fina e educada, não! Será esse um dos fatores que contribuem para que eles sejam países ricos e civilizados, enquanto nós permanecemos no terceiro mundo?