As feiras livres existentes pelo Brasil afora são uma tradição e revelam a cultura e o potencial produtivo de cada região. Em Paracatu, no Noroeste mineiro, esse tipo de comércio já teve altos e baixos, como ocorre em tempos atuais, em que o improviso e a falta de apoio estão cada vez mais presentes.
Realizada aos sábados na Rua Romualdo Ulhôa Tomba (fundos da Prefeitura) e aos domingos nas imediações do Largo do Santana, a feirinha, como é mais conhecida na cidade, já esteve ao longo de sua história melhor amparada pela municipalidade e em condições mais salutares para atender a sua freguesia.
Alguns documentos e periódicos do século passado, disponíveis para pesquisa no Arquivo Público Municipal, revelam um pouco sobre a existência da feira livre em Paracatu desde 1903, quando o Agente Executivo e Presidente da Câmara Municipal (na época não existia Prefeito), Christino Pimentel de Ulhôa, tendo como base a Lei nº 53, de 23 de novembro de 1899, sancionada pela gestão anterior, conclui as obras do Mercado Municipal e o entrega aos feirantes e à população.
O MERCADO MUNICIPAL
A implantação do Mercado Municipal foi sem dúvida alguma uma atitude louvável (ver placa de inauguração do Mercado disponível no Museu Histórico de Paracatu), porém não ganhara a simpatia dos feirantes, nem tampouco dos fregueses, haja vista as constantes reclamações sobre as taxas impostas pela municipalidade e o ínfimo movimento de pessoas no local, o que provavelmente por volta de 1934, culminara com o encerramento das atividades da feira no local e com a pulverização daqueles trabalhadores pelas ruas da cidade.
Outros órgãos públicos municipais ocuparam o prédio do extinto Mercado, inclusive e mais recentemente, o Museu Histórico Pedro Salazar Moscoso da Veiga, que desde 2002 permanece no local com vasto acervo sobre a memória de Paracatu.
A CEASA
No que tange ao interesse do Poder Público em garantir o mínimo de infraestrutura a esses pequenos comerciantes, destaca-se a construção e inauguração, em 19 de outubro de 1987, do Galpão da CEASA (atual Delegacia Civil de Paracatu) pelo Prefeito Diogo Soares Rodrigues, o Diogão, que tinha como proposta principal “[…] oferecer aos consumidores produtos de boa qualidade, com menor custo, além de fortalecer a classe dos produtores de hortigranjeiros[…]” (FOLHA NOROESTE, 1987). Apesar da visão empreendedora do então Chefe do Executivo, aquele Mercado também não prosperou e os feirantes em busca de sua clientela, retornaram à Praça do Rozário, para posteriormente, na década de 90, estabelecerem-se na Praça Firmina Santana.
FEIRINHA HOJE
Localizada nos fundos da Prefeitura Municipal, em meio a frondosas árvores, que conferem aos freqüentadores razoável sombra e bela paisagem, a feira livre de Paracatu conquistou, naquele disputado e valorizado espaço, a simpatia da população – pelo menos daquela que se utiliza do empreendimento para o fim a que se destina – mas ainda enfrenta problemas bem familiares como exposição ao sol e às chuvas, escassez de vagas em estacionamentos, sanitários insuficientes, custo com montagem e desmontagem das barracas (alguns pagam por este serviço), entre outros obstáculos ao seu crescimento.
Se de um lado quem deveria investir (o Poder Público) nesse empreendimento sustentável e gerador de renda que é a feira livre, faz vistas grossas para o assunto e não providencia sequer um abrigo ou uma cobertura para garantir o mínimo de conforto e de dignidade aos seus participantes, do outro, demonstra também, o desconhecimento do potencial do pequeno produtor rural, que poderia, se valorizada fosse a sua atividade, colocar alimento de melhor qualidade na mesa do consumidor a um preço justo. Despreza-se, ainda, o potencial turístico da feirinha, já que por ali circula muita gente, inclusive de outras cidades, em busca de um belo artesanato e é claro, de um delicioso pastel com caldo de cana.
Referências:
PARACATU. Lei n. 53 , 29 de Novembro de 1899. Dispõe sobre autorização ao Agente Executivo Municipal para construir uma casa para Mercado.
PARACATU. Balancete do rendimento do Mercado Municipal de Paracatu, do dia 17 a 30 de abril, exercício de 1903.
FOLHA NOROESTE. Paracatu: Nov. 1987.
O MOVIMENTO. Paracatu: N. 100, Set. 1995.
(*) Carlos Lima é graduado em Arquivologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBa), é Pós-Graduado em Oracle, Java e Gerência de Projetos, é consultor em organização de arquivos e memória empresarial e exerce a função de Arquivista do Arquivo Público Municipal de Paracatu.