Para onde vamos?

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Jornal A Gazentinha (*)    Paracatu-MG, 30 de Setembro 1898

Esta pergunta que nos serve hoje de epigraphe, é a interrogação que a toda hora escapa dos lábios de quem não vê com indifferença o desmoronamento de nossos costumes que até bem pouco tempo eram os mais bello titulo da nossa grandeza, e o mais solido fundamento da nossa tranqüilidade.

                Parece que a nossa civilisação é uma civilisação de morte, que visa destruir tudo, até as mais sagradas tradições dos nossos antepassados, semelhante ao vendaval que se desencadeia, terrível, na paz silenciosa das selvas.
                Profundamente abaladas todas as relações sociaes, extincta a confiança entre os homens, enfraquecido até o extremo o principio da autoridade; a verdade sendo vencida pelo erro, o direito pela força, a justiça pela iniqüidade; em summa, tudo transtornado e invertido, como se pudesse ser transposta a ordem natural das coisas pelo capricho dos homens: eis a perspectiva actual da nossa educação com o rotulo fritz-mack do século das luzes, e o relevo metallico da marca do progresso.
                Por qualquer face que se encare a nossa situação, ella só nos falla de destruição, com o colorido sombrio das grandes tristezas d’alma, e das magoas mais fundas da consciência.
                E estamos progredindo! Progredindo em que e para que?
                Na virtude e no trabalho; para a felicidade e para o bem?
                Estamos progredindo no respeito às leis, no cumprimento do dever, no respeito devido à autoridade constituída, e ao direito dos mais, na consideração que é devida aos velhos, e aos homens de posição legitimamente conquistada; estamos progredindo, ou estamos nos adiantando acaso, na pratica dos múltiplos deveres para com a sociedade e a família, como nos ensinam a Sciencia e a Religião?
                Não, estamos progredindo justamente no contrario: é na velleidade e na insubordinação, no pedantismo e na má creação – todos querem mandar, e ninguém quer obedecer, esquecendo-se de q’ quem não obedece, não póde ser obedecido; é nas falsas regalias –todos querem ter direito, ninguém quer ter deveres, é na incivilidade – aos velhos não se respeita mais, aos homens de posição recusam-se todas as deferências devidas à sua honorabilidade; até para com as senhoras já se falta com o acatamento devido à virtude e à castidade.
                E a esse tristissimo estado de cousas, que nos envergonha perante as nações civilisadas, chamam alguns – sem saber o que dizem – Democracia !
                Não; protestamos em nome de tão bella palavra; Democracia quer dizer cousa mui differente.
                Um paiz democrata é aquelle, como a França, a Suissa, os Estados Unidos, quase todas as monarchias da Europa e republicas da America do Sul, em que há respeito, civilidade, obediencia;  jerarchia política ao lado da egualdade civil; muitas liberdades e muitas restricções; muito repseito ao cidadão e muita obediencia à autoridade e à lei, muita severidade para os máos e muitas garantias para os bons; muitas escolas e muitas cadeias; muita egualdade e muitas distincções.
Isto sim é o que a linguagem da sciencia chama democracia, progresso, civilisação.

(*) Este trecho, extraído do editorial de A Gazetinha, Anno 1, Nº 1, de 30/09/1989 (exemplar original doado ao Acervo do Arquivo Público de Paracatu pelo senhor Uriel de Moura Santiago em outubro de 2010), foi transcrito sem correções e alterações, portanto fiel à grafia da época. 

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