Juscelino Carteiro fala do Dia da Consciência Negra

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ENTREVISTA JUSCELINO CARTEIRO

Juscelino Carteiro é um dos oito vereadores negros da Câmara Municipal de Paracatu. De origem humilde, desde cedo ele batalhou por seu espaço num meio rodeado de discriminação racial, mas afirma que isso nunca foi obstáculo para alcançar seus objetivos na vida, sempre ergueu a cabeça e foi em frente. Afirma que seu mandato no legislativo tem a finalidade de defender as minorias, os menos favorecidos e esquecidos na política, independente de raça.

Oito dos dezessete vereadores da Câmara Municipal de Paracatu são negros. Isso tem algum motivo especial, existe uma mudança de consciência da população?
Paracatu é uma cidade que tem sua origem na escravidão e onde a maioria da população é formada por negros. Seria natural se os postos políticos fossem ocupados pela maioria de negros, mas não foi isso que vimos ao longo da história política da nossa cidade. Penso que hoje tanto a consciência do próprio negro quanto do resto da população vem mudando esse quadro e colocando as coisas em seu parâmetro de normalidade.

Nesse Dia da Consciência Negra, o que podemos comemorar?
Apesar de ainda termos problemas primários com relação aos negros acho que avançamos. De um lado observamos a abordagem preconceituosa da polícia que generaliza negros como bandidos, a raça ainda predomina a faixa mais pobre da sociedade, mulheres e crianças negras ainda são maioria abaixo da linha da pobreza e também não conseguimos resolver com justiça o problema dos quilombolas. Por outro lado vemos o ministro do mais importante tribunal do país ser negro, sair do ceio da miséria e alcançar um posto dessa dimensão. O nosso conterrâneo Joaquim Barbosa é sinônimo de que quando o negro quer ele sabe fazer a diferença. Esse feito devemos comemorar, o da desigualdade social e de direitos devemos continuar lutando para mudar.

Na sua visão, que importantes avanços a raça negra tem alcançado nas últimas décadas?
Sem sombra de dúvida foi uma nova consciência sobre o racismo a nível nacional. Paracatu é um exemplo do que acontece no restante do país. Assistimos uma postura diferente da população em relação a questão racial, é latente o respeito pela raça, a começar nas escolas municipais que trabalham a questão com as crianças desde as primeiras séries. A autoestima do negro está elevada, muitos possuem carros, os filhos frequentam escolas particulares, o acesso ao ensino superior está facilitado, dentre muitos outros avanços. A pouco mais de vinte anos isso não existia e nem era possível. É só andar pelas ruas da nossa cidade para sentirmos a diferença.

Não há registro na história política de Paracatu de presidente da Câmara ou Prefeito negros. Está chegando a hora?
Veja bem, acho que o mais importante disso tudo é prestar um bom trabalho à população. Não se administra pra negros, brancos, pardos ou mulatos, mas pra todos, indiscriminadamente. Mas vejo a questão como algo que vai acontecer naturalmente, já que o negro vem mostrando ascensão em todos os campos, assim também como as mulheres, e consequentemente, começa a ocupar postos de destaques. Mas isso nunca será por causa da cor da pele e sim por ele mostrar que é competente, capaz de liderar seu povo.

Você sofreu muita discriminação quando era criança?
Que eu me lembre não. Sempre tive uma visão diferente das coisas, sempre segui de cabeça erguida, conquistei meu espaço por mérito e esforço próprio. É lógico que não se pode dizer que não exista discriminação, mas se aconteceu comigo ela foi velada ou eu não dei tanta importância.

Como você vê as políticas públicas no tratamento das questões raciais?
Vejo como positivas, ainda temos um longo caminho pela frente, mas os primeiros passos já estão sendo dados. Como exemplo cito as cotas, fator essencial para inserir o negro em curso superior. Isso pode não ser o essencial, mas vejo como uma medida positiva que vem corrigindo uma antiga dívida do país com a população afro-brasileira




Colaboração: Mírian Assenção  (Assessora de Comunicação)
XMCred Soluções Financeiras
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