"Dois numa cama aquecem um ao outro.
Sozinho, você pode morrer de frio".
(Ecl 4.11)
A vida a dois nunca foi tarefa das mais fáceis. Por mais amor que um parceiro sinta pelo outro, há momentos em que a convivência passa a ser difícil. Muitos escolhem a vida a dois mas, em nome da privacidade, ficam presos ao seu antigo mundo, e não percebem que a nova vida exige também desapego e renúncias.
Assim, em vez de construírem um novo mundo a partir de suas experiências pessoais, ficam dois mundos distintos se digladiando sob o mesmo teto sem, jamais, se constituírem enquanto família propriamente dita. Penso que muita coisa deve ser levada em conta para o sucesso de uma relação: amor — incluindo aí suas três dimensões: ágape (compaixão), filia (amizade) e eros (paixão, sexo) —, projeto de vida e longevidade. Uma relação que começa já com vistas a se acabar, nem será preciso uma tempestade para pôr um fim nela, basta um vento inesperado.
Temos, no entanto, de ter em mente que a vida a dois, ou em família — mesmo com os seus percalços ou contradições — pode e tende a ser bem melhor do que a solidão. E não é apenas porque nos aquece no frio que é importante ter alguém do nosso lado. Amar e ser amado faz bem à saúde, nos fortalece diante das dificuldades da vida-no-mundo e é um excelente antídoto contra a depressão. Por isto, desde a origem, já fomos criados para a vida em comunidade, que começa quando duas pessoas se juntam apesar de suas diferenças pessoais.
A solidão, quando não é parte de uma escolha pessoal, pode levar qualquer um ao sofrimento ou desespero. Há, inclusive, quem diga que, mesmo quando voluntária, a solidão está muito mais relacionada a uma patologia do que a uma vida saudável. Pesquisas indicam que a convivência a dois prolonga a vida e dá mais oportunidade de felicidade, donde concluímos que, de fato, não é bom para o ser humano que ele fique só.
