"Não há uma única pessoa perfeita no mundo;
nenhuma que seja pura e sem pecado."
(Ecl 7.20)
Por mais que tenhamos a presunção, ou a ilusão, de que somos pessoas corretas, cumpridoras dos nossos deveres — sejam eles familiares, sociais ou religiosos —, não o somos. A perfeição está muito longe da condição humana desde a Queda, de maneira que não devemos entrar em crise diante de nossas falhas, sejam elas grandes ou pequenas. Não somos Deus, humanos é o que somos.
O erro é próprio da condição humana e, apegar-se ao perfeccionismo exacerbado talvez seja a forma mais sutil de idolatria. Cultuar o próprio eu e imaginar-se perfeito, é atualizar o pecado de Adão. É querer ser como Deus, o Único perfeito: que nunca errou e no qual não existe imperfeição. Temos a péssima mania de nos colocar no lugar de Deus e querer ser exemplo para o nosso próximo, como se o conseguíssemos. Além de idolátrica, esta é uma atitude farisaica, uma vez que nos preocupamos com a aparência, e nos esquecemos que Deus julga segundo o coração.
Não é sem razão que Lutero, o grande reformador do século XVI, vai dizer que o ser humano é de tal modo pervertido que assemelha-se a uma árvore que, de tão retorcida, não conseguimos retirar dela uma única tábua reta.
Uma vez lavados no sangue do Cordeiro, a graça santificante que fora derramada sobre o mundo também nos banhou, nos tornando libertos em Cristo Jesus. É isto que diz a Escritura. Dito de outro modo, procure espelhar-se no Cristo, assemelhar-se a ele, mas sem jamais julgar quem quer que seja, pois só Ele é Santo, inteiramente puro e sem mácula alguma.
Quanto a nós — todos nós —, somos pecadores, limitados e imperfeitos. Isto, no entanto, não deve tirar do nosso coração a alegria de viver, nos transformando em pessoas taciturnas, sombrias e com a autoestima baixa, porque "temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo , o Justo" (1Jo 2.1b).
